Por Que a Gordura Trans Pode Causar Malefícios à Saúde?

A gordura é um dos nutrientes essenciais ao corpo. Mas uma em especial, a gordura trans (ácidos graxos trans) possui algumas contraindicações quanto ao seu consumo.

Esse tipo de gordura não é considerado saudável, já que ela tem forte relação com doenças cardiovasculares.

Dessa forma, organizações importantes estabeleceram regras para usar a gordura trans.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que as indústrias só podem declarar “zero trans” se a quantidade por porção for menor ou igual a 0,2g (1).

Portanto, um alimento embalado, cuja declaração diz ser “zero trans”, não é uma garantia de que não se utilizou essa gordura no seu processo de fabricação.

No entanto, em 2019, a Anvisa publicou uma nova resolução que determina a proibição do uso dessa gordura a partir de 2023 (2).

Logo, pode-se notar que há mudanças ocorrendo na direção de reforçar que os ácidos graxos trans podem ser nocivos para a saúde.

Então, neste artigo veremos o que ela é, seus efeitos no organismo e em quais alimentos estão presentes.

Além disso, vamos entender porque as indústrias usam essa substância em seus produtos.

O que é gordura trans?

A gordura trans é um tipo de gordura que se origina por um processo de hidrogenação, no qual se adiciona hidrogênio aos óleos, tornando-os sólidos à temperatura ambiente. Por isso, também podem ser chamados de óleo parcialmente hidrogenado ou gordura hidrogenada (3).

E por que se chama trans?

Na estrutura bioquímica, a molécula dos óleos possui dupla ligação em alguma parte da cadeia de carbonos (vários carbonos ligados entre si).

De modo simples, é como imaginar que os óleos são uma corrente formada por uma sequência de blocos (os carbonos) ligados entre si (por um ou dois cabos).

Sendo assim, quando há um único cabo unindo dois carbonos entre si, há ligação simples.

Quando há dois cabos unindo, chamamos de ligação dupla.

E aqui vai mais um detalhe, em cada carbono só é possível se encaixar quatro cabos.

Portanto, para a nossa ilustração aqui, ou o carbono está ligado a outro carbono, ou está ligado ao hidrogênio.

Quando há dupla ligação entre dois carbonos, os hidrogênios estão geralmente ligados ao carbono no mesmo lado da molécula.

Dessa forma, ela recebe o nome de cis.

Mas no processo de hidrogenação essa estrutura química se altera, fazendo com que os hidrogênios fiquem em lados opostos e na diagonal, mudando a configuração de cis para trans.

Em princípio, as indústrias utilizam bastante essa gordura porque ela é barata e dura por muito tempo, além de conferir sabor agradável aos alimentos.

Aliás, a maior parte dessa gordura é formada principalmente nesse processo industrial.

Entretanto, é possível ainda encontrar gordura trans naturalmente em alguns alimentos, como leite e produtos à base de carnes.

Sendo assim, veja agora se a gordura trans faz mal para a saúde.

Efeitos da gordura trans no organismo

Um dos problemas mais conhecidos sobre os ácidos graxos trans é sua relação com doenças do coração.

Já que o aumento da ingestão, para mais do que 1% do valor energético total consumido por uma pessoa, pode aumentar o risco para algumas doenças.

Isso acontece porque ela pode aumentar o “colesterol ruim” (LDL) mais do que as gorduras saturadas no sangue e, ainda, diminuir o “colesterol bom” (HDL).

Por esse motivo, o consumo dessa gordura está associado com aumento da doença arterial coronariana (4).

Assim como o aumento do risco de acumular placas de gordura nos vasos sanguíneos (aterosclerose).

Além disso, também pode piorar a função do endotélio (camada protetora que reveste o interior de artérias e veias).

Outro efeito negativo do consumo de gordura trans é aumentar a resistência à insulina.

Assim sendo, as células não conseguem responder bem ao sinal da insulina para captar a glicose do sangue.

Ou seja, isso significa ter mais chances de desenvolver diabetes tipo 2.

Então, já que possui muitos efeitos deletérios (5), como fazer para diminuir a sua ingestão?

E que tal conhecer também em quais alimentos a encontramos?

Alimentos com gordura trans

Como a maior parte dos ácidos graxos trans vem do processo industrial, os alimentos ricos em gordura trans (6) são os industrializados, os quais incluem:

  • Margarinas
  • Biscoitos
  • Chocolates
  • Sorvetes
  • Pratos congelados
  • Massas instantâneas
  • Pipoca de microondas
  • Pizza congelada

Esses são alguns dos alimentos nos quais pode encontrar esse tipo de gordura.

Por isso, tente evitá-los ou diminuir o seu consumo.

O que pode ser feito para não consumir muita gordura?

  • Tente manter um padrão alimentar rico em legumes, verduras, frutas e cereais integrais
  • Limite o consumo de guloseimas
  • Crie o hábito de ler os rótulos e dê preferência para aqueles sem gordura parcialmente hidrogenada

No entanto, deve-se ter atenção ao consumir alimentos que sejam zero gordura trans, pois provavelmente ele recebeu algum substituto dessa gordura para ser fabricado.

Muitas vezes essa substituição é feita com carboidratos refinados, os quais também têm associação com algumas doenças crônicas.

Por exemplo, a diabetes e as doenças cardiovasculares.

Assim sendo, é sempre bom ler a lista de ingredientes para ver o que tem no alimento antes de consumi-lo.

Por fim, entendemos que, obviamente, as mudanças na alimentação não ocorrem do dia para a noite.

Mas é importante começá-las.

Para isso, você pode procurar ajuda profissional para melhorar seus hábitos alimentares, bem como seu comportamento em relação à comida.

Este artigo te ajudou?

Nutricionista pela Faculdade de Ciências Aplicadas - Unicamp com curso de Abordagens comportamentais no Atendimento Nutricional e pós graduação em Aperfeiçoamento de Nutrição Esportiva e Obesidade pela Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto.

William Fan (Revisor)

William Fan é médico graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB). Fez estágios clínicos em Oncologia Clínica e Medicina de Emergências na Prince of Wales Hospital, afiliada da University of New South Wales, Sydney, Australia (UNSW) e que faz parte do prestigiado Group of Eight, grupo que reúne as 8 instituições líderes de excelência em ensino e pesquisa da Austrália. Além disso, colaborou no desenvolvimento de um projeto científico da Centre for Vascular Research, na UNSW. Tem também publicações científicas em periódicos (revistas) internacionais de impacto na comunidade científica em áreas de pesquisa experimental e pesquisa clínica, abrangendo as áreas de biologia do câncer, doenças cardiovasculares, além de ser co-autor de uma revisão sistemática e meta-análise. Foi certificado pelo programa Sharpen Your Communication Skills da Stanford Graduate School of Business. Atualmente é revisor científico do Vitalismo. Seus interesses incluem entender como aplicar o conhecimento de pesquisas científicas no desenvolvimento de tecnologias para melhorar a saúde das pessoas. Nos momentos livres, gosta de estudar idiomas (atualmente fala Inglês, Chinês Mandarim e Alemão), fazer leituras, acompanhar debates inteligentes, jogar basquete e experimentar diferentes culinárias.

Este artigo não possui comentários
      Deixe seu comentário

      O seu endereço de email não será publicado.