Isotônicos São Melhores do Que a Água Para Hidratação?

Os isotônicos (bebidas esportivas) são amplamente divulgados como forma de repor os líquidos do corpo (hidratação).

Assim como para repor eletrólitos (especialmente sódio) e carboidratos (glicose).

Isso aconteceu porque começou a se espalhar informações de que a desidratação prejudica o desempenho esportivo.

Dessa forma, tomar essas bebidas melhoraria o desempenho do atleta durante o exercício físico (1).

E, ainda, seria melhor até mesmo do que a água para hidratar.

No entanto, os isotônicos não parecem ter tantas vantagens quanto os fabricantes dizem ter.

Além disso, é possível apresentar malefícios com o consumo dessas bebidas.

Portanto, veremos neste artigo qual é a relação de bebidas esportivas com a saúde e se elas repõem os eletrólitos.

Assim como entenderemos também se elas hidratam melhor do que a água.

O que é e para que serve o isotônico?

Os isotônicos são bebidas esportivas criadas por indústrias e são muito populares entre os atletas. Servem para repor carboidratos, sais minerais, aumentar a resistência e tem objetivo de prevenir a desidratação em atletas durante o exercício físico intenso.

Por que os isotônicos seriam melhores para hidratar?

O que as indústrias alegam é que o sódio presente nessas bebidas, faz com que a pessoa tenha mais sede.

Isso a estimula a beber mais líquido, de modo que a retenção também se torna melhor.

Além disso, os carboidratos ajudam a absorver mais água pelo intestino.

Sendo assim, as empresas afirmam que, de acordo com estudos científicos, os isotônicos são mais eficientes na hidratação.

Mas uma investigação feita por um periódico britânico descobriu que as indústrias de bebidas esportivas financiavam esses estudos (2).

Além disso, o Centro de Medicina Baseada em Evidências da Universidade de Oxford fez uma avaliação sobre os estudos de produtos esportivos, o que inclui os isotônicos (3).

Nessa avaliação eles identificaram vários problemas, sendo que alguns deles incluem:

  • Amostras pequenas, ou seja, não se pode dizer que os resultados serão os mesmos em outras pessoas que não fizeram parte do estudo
  • Baixa qualidade dos estudos, sendo muito mal formulados
  • Manipulação da alimentação antes do estudo, o que pode alterar significativamente os resultados
  • Fatores ambientais que também podem dar diferentes resultados

Dessa forma, não é possível afirmar que os efeitos benéficos dessas bebidas são reais.

Veja agora quais seriam os benefícios dos isotônicos.

Reposição de eletrólitos e carboidratos

Além de eficiente na hidratação, os fabricantes afirmam que são importantes também para repor eletrólitos e carboidratos.

No entanto, o teor de sódio nessas bebidas é muito baixo.

Então, para possivelmente conseguir repor, seria necessário ingerir uma quantidade muito grande de bebidas isotônicas.

Mas isso vem com um potencial problema resultante que pode ser muito sério, a hiponatremia, ou seja, baixos níveis de sódio no sangue.

E essa condição pode levar à morte.

Isso foi o que aconteceu em uma maratona, na qual 16 mortes foram registradas (4).

Além disso, nem mesmo a suplementação de sódio parece evitar casos de hiponatremia durante o exercício quando a ingestão de líquidos é muito alta (5).

Portanto, os isotônicos não parecem ser eficientes em repor eletrólitos no organismo.

Por outro lado, algumas pessoas podem se beneficiar com a reposição de carboidratos dessas bebidas.

Mas isso só é verificado se forem exercícios de longa duração (acima de uma hora) e alta intensidade.

Sendo assim, em atividades de baixa intensidade não há necessidade de consumir esses produtos.

E podem ainda contribuir com alguns problemas de saúde.

Os isotônicos podem causar malefícios?

Além de baixos níveis de sódio no sangue pelo alto consumo de líquidos, outros problemas podem surgir, pois essas bebidas possuem muitos açúcares.

Então, se uma pessoa não faz atividade física vigorosa, os isotônicos contribuirão com aumento da ingestão de calorias e açúcares livres.

Com isso, essas bebidas podem aumentar o risco de obesidade e sobrepeso (6,7), bem como de outros problemas de saúde, tais como:

Outro problema é com relação às crianças e adolescentes.

Já que são incentivados a parar suas atividades físicas para beber.

É o que se verifica em muitas escolas do Reino Unido (8).

Mas, mais uma vez, lembremos que aqueles que não realizam exercícios vigorosos não precisam dessas bebidas.

Já os adolescentes que praticam atividade física intensa, necessitam de monitoramento para não consumi-las em excesso.

Portanto, diante de tudo isso, talvez incentivar a ingestão de água ao invés de isotônicos seja a melhor opção (9).

Ainda assim, é possível usá-los como uma das formas de repor glicose para quem faz atividades físicas intensas.

Então, se você optar por consumir essas bebidas, procure um profissional para saber como adequar esse consumo na sua rotina de treino e minimizar os riscos.

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Nutricionista pela Faculdade de Ciências Aplicadas - Unicamp com curso de Abordagens comportamentais no Atendimento Nutricional e pós graduação em Aperfeiçoamento de Nutrição Esportiva e Obesidade pela Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto.

William Fan (Revisor)

William Fan é médico graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB). Fez estágios clínicos em Oncologia Clínica e Medicina de Emergências na Prince of Wales Hospital, afiliada da University of New South Wales, Sydney, Australia (UNSW) e que faz parte do prestigiado Group of Eight, grupo que reúne as 8 instituições líderes de excelência em ensino e pesquisa da Austrália. Além disso, colaborou no desenvolvimento de um projeto científico da Centre for Vascular Research, na UNSW. Tem também publicações científicas em periódicos (revistas) internacionais de impacto na comunidade científica em áreas de pesquisa experimental e pesquisa clínica, abrangendo as áreas de biologia do câncer, doenças cardiovasculares, além de ser co-autor de uma revisão sistemática e meta-análise. Foi certificado pelo programa Sharpen Your Communication Skills da Stanford Graduate School of Business. Atualmente é revisor científico do Vitalismo. Seus interesses incluem entender como aplicar o conhecimento de pesquisas científicas no desenvolvimento de tecnologias para melhorar a saúde das pessoas. Nos momentos livres, gosta de estudar idiomas (atualmente fala Inglês, Chinês Mandarim e Alemão), fazer leituras, acompanhar debates inteligentes, jogar basquete e experimentar diferentes culinárias.

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