Demência: Até Onde a Cognição é Comprometida?

Estima-se que mais de 45 milhões de pessoas vivam com demência no mundo.

Além disso, esse número tende a dobrar a cada 20 anos, segundo o Instituto Alzheimer Brasil (IAB). (*)

Mas afinal, você sabe quais as características da demência e seus sintomas?

Para responder essas e outras perguntas, convidamos o Dr. Alessandro Ferrari Jacinto para uma entrevista.

Dr. Alesssandro  é médico graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde também realizou o programa de residência médica em Geriatria e Gerontologia.

Além disso, possui o título de especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Tem doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Neurologia da FMUSP e pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da UNIFESP.

Atuou como médico geriatra no Hospital Albert Einstein e foi professor doutor na Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp) e na Escola Paulista de Medicina (Unifesp).

O que é demência?

A demência é o estado onde a pessoa começa a ter uma alteração cognitiva, ou seja, alterações nas ferramentas que nós temos no sistema nervoso central para resolução de problemas da vida cotidiana. Quando o  comprometimento cognitivo leva a pessoa a ter algum tipo de dependência para realizar atividades diárias, começa um quadro demencial.

A cognição envolve a memória, função executiva, habilidade  visuoespacial, linguagem, atenção, entre outros.

Portanto, as dificuldades podem aparecer até nas situações mais simples do dia a dia.

Por exemplo, conseguir se lembrar do que falta em casa para ir ao mercado.

Depois das compras, conseguir guardar as coisas no lugar correto.

Por fim, é importante falar sobre como a palavra demência pode ter uma conotação negativa.

Isso porque, algumas vezes, essa palavra é usada na linguagem informal de forma pejorativa.

Quais são os sinais que podem indicar demência?

São exemplos:

  • Perda de memória recente, ou seja, dificuldade em fixar novas informações, fatos que aconteceram há algumas horas
  • Alterações na linguagem
  • Alterações no comportamento, por exemplo: agressividade, desinibição, hiperssexualidade

Existem classificações para os tipos de demência?

De maneira geral, as demências podem ser decorrentes de quadros neurodegenerativos primários.

Ou seja, processos patológicos que envolvem o sistema nervoso central.

Ou ainda, demências potencialmente reversíveis.

Sendo assim, essas possuem uma causa que se for tratada, pode ter um potencial para ser resolvida.

Existem estágios de demência?

Todos os tipos de demência possuem estágios.

A classificação desses estágios tem relação com a gravidade da doença e são:

  • Leve
  • Moderado
  • Avançado

Quais são os fatores de risco para a demência?

Fatores de risco são condições que podem aumentar as chances do desenvolvimento da doença, por exemplo:

No entanto, é importante saber que a demência é uma doença multifatorial, ou seja, depende de diversos fatores e condições.

Por fim, podemos dizer que a causa mais comum, cerca de 65 a 70% dos casos, é a doença de Alzheimer.

Como funciona o diagnóstico de demência?

De maneira geral, o diagnóstico pode ser confirmado por meio de:

  • Avaliações e testes clínicos feitos dentro do consultório
  • A tomografia e a ressonância cerebral podem auxiliar no diagnóstico

Quais doenças podem ser confundidas com demência?

  • Alterações o humor: por exemplo, quadros depressivos graves podem simular quadro demencial
  • Alterações na tireoide: hipotireoidismo, por exemplo
  • Deficiência de vitamina B12
  • Deficiência de ácido fólico
  • Quadros psiquiátricos como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar

Demência tem cura?

Infelizmente, não existe a cura para demência, com exceção daqueles quadros potencialmente reversíveis

Ou seja, assim que o diagnóstico é fechado, não há mais como fazer a doença regredir.

No entanto, existe tratamento que tem como objetivo de desacelerar ou impedir o agravamento da doença.

Como é o tratamento de um quadro de demência?

De modo geral, o tratamento é feito utilizando algumas medicações como os inibidores da acetilcolinesterase (rivastigmina, donepezila e galantamina) e os antagonistas do receptor NMDA do glutamato (memantina).

Por fim, em quadros de demência do tipo frontotemporal utilizam-se remédios antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor, por exemplo.

Quais são as complicações da demência?

Em primeiro lugar, é importante dizer que as complicações relacionadas com a demência não são, na maioria das vezes, fisiológicas.

Ou seja, não tem relação direta com prejuízo das funções do corpo.

Na verdade, as complicações envolvem a segurança do paciente.

Isso porque, durante o quadro de demência, a pessoa pode desenvolver ações que colocam ela ou outras pessoas em risco.

Por exemplo,  há casos em que  a pessoa pode fugir de casa e não conseguir encontrar o caminho de volta.

Ou tentar dirigir e sofrer um acidente, entre outros problemas.

No entanto, em casos graves, pode ocorrer imobilização devido ao comprometimento motor.

Por causa da imobilização, podem surgir outras complicações como bronco-aspiração, lesões por pressão cutâneas e infecções.

Como os familiares ou cuidadores podem contribuir com a assistência às pessoas com quadro demencial?

De modo geral, cuidadores que não são profissionais de saúde devem procurar conhecimento para ajudar na rotina do dia a dia.

Por exemplo, entidades como a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ) possuem materiais de apoio que podem servir de guia para quem cuida de uma pessoa com demência.

Ou seja, você pode aprender a lidar melhor com agressividade, não conseguir dar comida e outros cuidados gerais.

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Médico graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde também realizou o programa de residência médica em Geriatria e Gerontologia. Possui o título de especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Tem doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atuou como médico geriatra no Hospital Albert Einstein e foi professor doutor na Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp) e na Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É co-autor do livro "Alzheimer: A doença e seus cuidados" (Editora Unesp), que foi vencedor do prêmio (1o lugar) da Associação Brasieira de Editoras Universitárias (ABEU) em 2018. Atualmente, atua em seu consultório particular no município de Adamantina/SP.

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