Doença Arterial Obstrutiva Periférica: Dor e Frio nas Pernas?

A doença arterial obstrutiva periférica é uma causa comum de incapacidade e afastamento do trabalho para muitas pessoas.

Essa doença costuma ser silenciosa nos estágios iniciais, quando o acúmulo de gordura dentro das artérias (vasos sanguíneos) ainda não levou a uma obstrução superior a 50% do fluxo de sangue (*).

Para entrar em mais detalhes sobre a doença arterial obstrutiva periférica, convidamos a Dra. Ludmila Bertti.

Dra Bertti é médica formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e realizou o programa de residência médica em Cirurgia Geral pelo Hospital de Base do Distrito Federal (DF).

Além disso, possui especialização em Cirurgia Vascular pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

O que é doença arterial obstrutiva periférica?

A doença arterial obstrutiva periférica é uma condição onde ocorre estreitamento ou obstrução de artérias (vasos sanguíneos) das pernas (e, mais raramente, dos braços). Isso se dá por conta da formação de placas de gordura na parede interna dos vasos, o que dificulta ou até mesmo impede o fluxo de sangue.

Quanto maior o grau de dificuldade no fluxo sanguíneo, maior a gravidade da doença.

Como consequência, mais intensos costumam ser os sintomas.

Qual é a causa da doença arterial obstrutiva periférica?

Essa condição tem relação direta com o acúmulo de gordura dentro dos vasos (artérias).

O desenvolvimento desse acúmulo, por sua vez, tem relação com fatores de risco.

Alguns hábitos de vida têm maior correlação com o surgimento e o desenvolvimento das placas de gordura dentro das artérias, o que chamamos de aterosclerose.

Alguns fatores de risco que aumentam essas chances são, por exemplo:

Quanto mais fatores de risco somados, maiores serão as chances de se desenvolver problemas arteriais.

Por fim, existem doenças e condições genéticas que podem causar essa doença, porém são casos mais raros e geralmente encontramos doenças muito severas em pacientes muito jovens e em mais de um membro da mesma família.

O que acontece com o vaso sanguíneo na doença arterial obstrutiva periférica?

Em primeiro lugar, é importante saber que quando existe um alto teor de lipídios ou glicose no organismo, o corpo fica em um estado de hiper reatividade, ou seja, em estado de inflamação.

Com isso, na parede de vasos como as artérias, começa a surgir uma reação inflamatória.

Por conta disso, células chamadas de macrófagos saem dos vasos e começam a tentar englobar essas “bolinhas” de gordura.

Esta gordura que é “engolida” pelas células de defesa vão ser depositadas na parede das artérias, criando uma “lombada” em direção à luz (interior do vaso sanguíneo).

Ou seja, a parede da artéria forma uma obstrução para o fluxo de sangue.

Estes obstáculos (que são as placas de gordura) provocam uma diminuição na velocidade do fluxo sanguíneo, com isso, o sangue leva mais tempo para chegar até a extremidade.

Quanto maior a quantidade de obstruções, menor é a velocidade com que o sangue chega nas extremidades do corpo como pernas e pés.

Como consequência, ocorrem sintomas de insuficiência arterial, pois nutrientes importantes que o sangue trasportam não alcançam as extremidades.

Quais são os sintomas da doença arterial obstrutiva periférica?

Os sinais e sintomas que podem aparecer são, por exemplo:

  • Dor nas pernas, especialmente ao fazer alguma atividade física;
  • Cãimbras;
  • Membros com alteração na coloração da pele: mais palidez ou pele arroxeada, por exemplo
  • Frieza dos membros periféricos como pernas e pés
  • Queda ou diminuição dos pelos
  • Fraqueza nas unhas

Quais exames posso realizar para identificar a presença de doença arterial obstrutiva periférica?

O ideal é que a partir dos 40 anos, seja feito o “checkup” anualmente dos exames.

Exames de sangue podem indicar alterações no colesterol e nas taxas de glicose (açúcar no sangue).

Além disso, existe o exame doppler arterial que é um ultrassom focado na circulação e nos vasos sanguíneos.

Este exame é capaz de detectar alterações nas paredes dos vasos, ajudando a definir quais pessoas tem maior risco de desenvolver sintomas de doença arterial.

Sendo assim, podemos ser mais agressivos no tratamento, com objetivo de prevenir complicações graves como lesões de pele e amputação de membro.

Esse exame pode ser realizado em artérias como a carótida (que irriga o cérebro) e também em vasos das pernas.

Por fim, o ecocardiograma é um exame que vai avaliar as artérias coronárias que são vasos do coração.

Quais são as complicações da doença arterial obstrutiva periférica?

As complicações da doença arterial obstrutiva periférica são condições associadas à insuficiência arterial.

Ou seja, quando o sangue não consegue chegar corretamente até os membros.

Assim, quanto maior for o vaso que está comprometido, mais severos serão os sintomas naquele membro.

Os vasos são responsáveis por irrigar o corpo inteiro e por isso, a sua obstrução pode causar diversas complicações, por exemplo:

  • Morte dos nervos por falta de aporte sanguíneo que causa insensibilidade do membro
  • Claudicação intermitente (dores musculares intensas ao caminhar)
  • Lesões de pele (que chamamos de lesões tróficas) que acontecem quando abre uma ferida no membro porém, devido a deficiência de transporte do sangue há dificuldade de cicatrização, gerando uma lesão crônica
  • Dor crônica mesmo em repouso
  • Amputação de membros quando há dano severo ao transporte de sangue a ponto de causar morte dos tecidos

Como posso prevenir a doença arterial obstrutiva periférica?

O principal modo de prevenção é controlar os fatores de risco.

As mudanças nos hábitos de vida são os principais aliados para a prevenção dessa doença.

Assim, quanto mais fatores de risco controlados, menor a chance de desenvolver a doença arterial obstrutiva periférica.

Alguns hábitos importante são, por exemplo:

  • Prática regular de atividades físicas
  • Ter uma dieta equilibrada com controle de gordura e açúcares
  • Não fumar
  • Se manter sempre num peso saudável
  • Controlar as doenças pré-existentes tais como pressão alta, diabetes, colesterol alto

Como em geral os hábitos ruins não causam sintomas por si só, eles costumam aparecer quando o corpo já está em sobrecarga.

Por isso, também é importante realizar consultas e exames regularmente.

Ou seja, realizar exames de rotina como exames de sangue é importante para perceber possíveis alterações precocemente.

Como é o tratamento para doença arterial obstrutiva periférica?

O tratamento da doença arterial obstrutiva periférica é estratificado dependendo da gravidade da obstrução ao fluxo arterial.

O que há em comum a todos os estágios é o controle de fatores de risco tais como excesso de peso, tabagismo, pressão alta, diabetes, colesterol alto e sedentarismo.

Nos casos mais iniciais onde a dor ao caminhar não é limitante, ou seja, o paciente consegue realizar as atividades cotidianas sem precisar parar para descansar, podemos lançar mão do tratamento clínico (com medicamentos e fisioterapia).

Nos casos mais graves, em que há dificuldade de caminhar a ponto de atrapalhar a rotina diária do paciente, ou em casos em que a insuficiência arterial está tão severa que há lesão de pele (chamadas lesões tróficas) ou mesmo dor de repouso, o tratamento deve ser mais intenso.

Nestes casos, geralmente é indicada cirurgia que pode ser realizada da maneira convencional com cortes e confecção de ponte de safena ou de maneira minimamente invasiva que é o cateterismo para angioplastia.

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Médica formada pela Universidade Federal de Goiás, fez residência médica em Cirurgia Geral pelo Hospital de Base do DF e residência médica em Cirurgia Vascular pela Universidade Federal de Uberlândia, atua no serviço público como plantonista e preceptora de acadêmicos e residentes e na clínica privada localizada na Asa Norte, Brasília-DF.

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