Trombose Venosa Profunda: O que Acontece com as Veias?

A trombose venosa profunda (TVP) é uma condição de saúde comum entre as pessoas.

Ou seja, para cada 100.000 habitantes, cerca de 60 pessoas sofrem com a doença todo ano, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). (*)

Mas afinal, o que causa trombose venosa profunda?

Para responder essas e outras perguntas, convidamos a Dra. Ludmila Bertti para uma entrevista.

Dra Bertti é médica formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e realizou o programa de residência médica em Cirurgia Geral pelo Hospital de Base do Distrito Federal (DF).

Além disso, possui especialização em Cirurgia Vascular pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

O que é a trombose venosa profunda?

A trombose venosa profunda é a formação de coágulos (sangue na consistência de um gel) dentro de um vaso sanguíneo venoso, ou seja, dentro da veia. Quando esse coágulo se forma, o vaso se entope e o sangue para de fluir como deveria.

Ou seja, podemos dizer que se trata do entupimento do vaso por causa da formação de coágulo, com interrupção parcial ou total do fluxo sanguíneo.

O coágulo é formado quando um estado de hipercoagulação se inicia no organismo.

Ou seja, quando ocorre o processo de coagulação de forma exagerada, que é a passagem do sangue em estado líquido para o estado semi sólido (similar ao de um gel).

Qual é a diferença entre artérias e veias?

Ambos são vasos que fazem parte do sistema circulatório do nosso corpo e por isso estão diretamente relacionados, interconectados.

Porém, os dois vasos têm características e funções completamente diferentes.

Em primeiro lugar, na artéria corre o sangue que vem do coração em direção às extremidades. 

Através das artérias, o sangue rico em oxigênio e nutrientes é levado para os nossos tecidos (as diferentes partes de todos os órgãos).

Além disso, a artéria possui uma camada muscular mais robusta, ou seja, ela é mais grossa.

Já as veias, trazem o sangue das extremidades de volta para a circulação central, com todos os metabólitos (“lixo” do metabolismo celular).

E esse sangue será levado até os rins e os pulmões onde os metabólitos serão eliminados.

Além disso, a veia é mais maleável e tem a parede mais fina, com uma camada muscular pouco desenvolvida.

Por este motivo, o fluxo sanguíneo na veia depende do impulso de músculos como os da panturrilha (“batata da perna”, também conhecida como “coração da perna”) e da planta do pé, por exemplo.

Quais são as causas da trombose venosa profunda?

A TVP pode ser uma doença primária quando os fatores de risco somente são capazes de provocar a coagulação dentro do veia.

Ou pode ser um sintoma de outra doença, como ocorre nos casos de algumas neoplasias (câncer) ou trombofilias (alterações genéticas que facilitam a formação do trombo).

Mas é importante saber que o desenvolvimento da trombose venosa profunda vai depender principalmente dos fatores de risco.

Ou seja, são condições prévias ou hábitos de vida que aumentam as chances do aparecimento da TVP.

Quais são os fatores de risco da trombose venosa profunda?

  • Idosos com idade acima de 60 anos e especialmente acima de 75 anos;
  • Obesidade
  • Pessoas que precisam ficar acamadas, ou seja, em repouso absoluto
  • Ter histórico prévio de trombose
  • Imobilização, por exemplo: quando se quebra algum osso do corpo e necessita de imobilização com bota ou tala de gesso
  • Uso de anticoncepcional
  • Terapia hormonal durante a menopausa
  • Pós operatório de qualquer cirurgia, sendo que, quanto maior o tempo de duração e o porte cirúrgico, maior o risco da trombose
  • História familiar de TVP 
  • Infecções graves ou generalizadas
  • Gravidez e puerpério
  • Tabagistas

Quais são os sintomas de trombose venosa profunda?

Em primeiro lugar, é importante saber que cerca de 30% dos casos são assintomáticos, ou seja, não causam nenhum sintoma.

Por isso é importante avaliar os fatores de risco.

Hoje em dia, antes de qualquer cirurgia, são realizados uma série de exames para avaliar os riscos de trombose.

Além disso, a depender da graduação deste risco em baixo, intermediário ou alto, adotamos as medidas de prevenção.

Nos casos onde a TVP apresenta sintomas, os mais comuns são:

  • Dor súbita em apenas um dos membros, especialmente nas pernas que é o local mais comum de trombose
  • Sensação de peso e cansaço
  • Dor na panturrilha durante mobilização ou a palpação
  • Inchaço na perna que está com o trombo
  • Aspecto endurecido da panturrilha

Quanto tempo dura uma trombose?

De maneira geral, é possível classificar a trombose venosa profunda de duas maneiras.

A primeira, através do tempo de evolução e a segunda de acordo com a localização anatômica.

A classificação através do tempo de evolução é feita através de exames que avaliam aspectos das veias e se agrupam da seguinte forma:

  • Aguda: Muitas vezes não é possível a visão direta do trombo, mas observamos a dilatação do vaso, a ausência de fluxo (entupimento) e o vaso não fica compressível
  • Sub aguda: o coágulo começa a envelhecer. Duração em média de 1 semana, aqui o coágulo já se torna visível ao exame
  • Crônica: acontece a partir de 1 mês, o coágulo está envelhecido, é bem visível e o vaso já voltou ao seu tamanho normal pois o trombo está sendo absorvido. Nesta fase, já podemos observar sinais de recanalização da veia, ou seja, quando o coágulo vai sendo dissolvido pelo organismo e a veia volta a ter fluxo de sangue.

Por fim, com relação à classificação pela posição em que surge a TVP, temos:

  • Trombose distal: que acontece nas veias abaixo do joelho
  • Trombose proximal: que acontece nas veias abaixo do joelho

Por fim, é importante ressaltar que quanto mais alta for a TVP, mais próxima da virilha, maiores são as chances de embolia pulmonar.

Como posso prevenir a TVP?

Além de se conhecer bem o histórico da sua família, o principal modo de prevenção da trombose venosa profunda é através dos hábitos de vida, ou seja:

  • Se passar muito tempo trabalhando sentado, levante e ande um pouco a cada 2 horas
  • Evite repouso prolongado, ou seja, ficar em pé ou sentada por tempo superior a 2 horas;
  • Beba muita água (a urina deve sair com aspecto claro) pois ajuda o sangue a afinar e circular melhor
  • Ao chegar em casa, deite com as pernas para cima por aproximadamente 10 minutos para que a gravidade ajude o retorno venoso
  • Utilize meia compressiva (deve ser prescrita por um médico), pois ela comprime o vaso de fora para dentro para limitar o quanto a veia pode dilatar, com isso, limita a quantidade de sangue parada no vaso, além de auxiliar no retorno venoso.

Como é o tratamento de trombose venosa profunda?

Hoje em dia, não precisa ter o diagnóstico confirmado para se iniciar o tratamento. 

Quando o médico suspeita que pode ser uma trombose, os anticoagulantes devem ser iniciados imediatamente.

Isso porque quanto mais precoce é o tratamento, maior as chances de não desenvolver complicações.

Com relação aos medicamentos são utilizados anticoagulantes, dentre eles:

  • Heparinas
  • Antagonistas da vitamina K (varfarina, o famoso Marevan®)
  • Anticoagulantes diretos

Quais são as complicações da trombose venosa profunda?

Quando o fluxo de sangue é interrompido por algum coágulo, o sangue “desvia” esse trombo.

Dessa forma, pode sobrecarregar outras partes do corpo.

Quando há interrupção do fluxo no sistema venoso profundo, o sangue é desviado para o sistema superficial, que está mais perto da pele.

Assim, as veias podem ficar mais aparentes e então surgirem as varizes.

Dentre as complicações mais graves, podemos citar:

  • Embolia pulmonar: ocorre quando um coágulo se desprende das pernas e percorre a circulação até o pulmão onde pode entupir vasos, causando casos de falta de ar e dificuldade para respirar
  • Síndrome pós trombótica: complicação tardia com varizes de grande calibre e inflamação crônica das pernas
  • Insuficiência Venosa Crônica: são alterações na pele dos veias dos membros inferiores provocadas pelo processo inflamatório desencadeado pela estase sanguínea nas veias. Essas alterações podem ser varizes simples, dermatite ocre, eczema, edema tipo casca de laranja e manchas acastanhadas

Qual a relação da trombose venosa profunda com COVID-19?

A infecção pelo vírus da COVID-19 é uma doença inflamatória que pode variar de intensidade de acordo com características pessoais e presença de fatores de risco.

Toda doença inflamatória pode desencadear a cascata de coagulação do nosso organismo e assim, aumentar os riscos da trombose venosa profunda.

Qualquer tipo de doença inflamatória pode desencadear uma trombose venosa profunda, ou seja, qualquer infecção por vírus ou bactérias, doenças auto-imunes, doenças inflamatórias como doença de Crohn e retocolite.

Especificamente no caso da COVID-19, houve um número absoluto muito significativo de casos, com pessoas ficando doentes ao mesmo tempo. 

Com isso, os desdobramentos mais graves apareceram em maior quantidade.

Este artigo te ajudou?

Médica formada pela Universidade Federal de Goiás, fez residência médica em Cirurgia Geral pelo Hospital de Base do DF e residência médica em Cirurgia Vascular pela Universidade Federal de Uberlândia, atua no serviço público como plantonista e preceptora de acadêmicos e residentes e na clínica privada localizada na Asa Norte, Brasília-DF.

Este artigo não possui comentários
      Deixe seu comentário

      O seu endereço de email não será publicado.